Casas da Baixa – Jules & Madeleine
Cheguei ao número 23 da Rua de São Julião, introduzi o código que Mariana Alcobia me tinha enviado por correio eletrónico e atravessei a grossa e velha porta de madeira do prédio. No hall de entrada, o aspeto era uma desafiadora antiguidade contemporânea que me deixou curioso e serviu de prenúncio para o que haveria de encontrar lá em cima, depois de subir de elevador!
Sim, a primeira surpresa das Casas da Baixa – Jules & Madeleine foi, precisamente, o elevador. Por ser grande ou rápido? Nada disso. Por ter como decoração um painel de azulejos delicioso, uma espécie de manta de retalhos feita com o aproveitamento de pedaços dos azulejos do edifício original. Uma ideia brilhante, que me colocou um sorriso na face. Foi assim, feliz e surpreendido, que cheguei ao apartamento, para de novo ficar embasbacado com o bom gosto patente à minha frente.
Era um apartamento imaculadamente limpo e muito luminoso, dominado por tons claros, com um pequeno corredor com acesso a um quarto onde repousava umas das camas mais extraordinárias onde já dormi. Estava colocada entre paredes de granito, debaixo da antiga chaminé da cozinha, função original da divisão antes de transformada em apartamentos turísticos – um charme. Ao lado do quarto, uma casa de banho menos vistosa que os restantes aposentos e, ao fundo do corredor, uma agradável sala de estar com sofá e televisão e uma mesa de refeições. Nas paredes havia molduras com desenhos de um artista mongol radicado em Portugal, pedaços de painéis de azulejos e uma “gaiola pombalina” – armação de madeira com a forma das cruzes de Santo André usada como proteção antissísmica – mantidas do prédio original, e ainda um belíssimo candeeiro de parede com um pequeno tronco de madeira a fazer de pé. Por fim, num recanto da sala, o acesso a uma pequena cozinha, suficiente para preparar qualquer refeição.
Estava ainda a contemplar o apartamento quando Mariana tocou à campainha. Jovem e simpática, Mariana é uma espécie de concierge dos apartamentos Casas da Baixa – Jules & Madeleine. Deu-me as boas-vindas, explicou-me o funcionamento da unidade hoteleira de forma expedita, colocou-se à disposição via telefone para o que fosse necessário e foi-se embora. “Não somos uns self-catering apartments que se limitam a enviar o código por email aos clientes e nunca dão a cara”, disse-me posteriormente. Simples, prático e descomplicado – exatamente como eu gosto.
A estadia decorreu sem sobressaltos. Senti-me como se estivesse na “minha” casa em Lisboa – e esse é um dos melhores elogios que poderei fazer aos apartamentos Casas da Baixa – Jules & Madeleine. Saí em reportagem durante a tarde, regressei a “casa”; saí para jantar com amigos, regressei a “casa” para uma noite descansada; saí para tomar o pequeno-almoço num café próximo, como tantas vezes faço no meu dia-a-dia, e de novo regressei para me despedir de Lisboa com um check-out tão simples como maravilhoso: fechei a porta e fui embora. Sem mais. Ser-se tratado sem desconfianças não tem preço.
Saí, no entanto, sem ter conhecido Jules nem Madeleine. Antes de ali chegar, tinha imaginado um conjunto de apartamentos geridos de forma familiar por um casal de estrangeiros radicados em Portugal, porventura apaixonados por Lisboa – talvez até moradores num dos apartamentos do prédio. Imaginei, mas não poderia estar mais longe da verdade: o epíteto adicionado aos apartamentos Casas da Baixa é apenas um trocadilho com os nomes das ruas de São Julião e da Madalena onde o edifício se localiza.
Senti-me ludibriado com a jogada de marketing desnecessária. Jules e Madeleine são personagens de ficção. Era mais fiel que os apartamentos se chamassem apenas Casas da Baixa. Seja como for, recomendá-los-ei sem hesitações a quem visitar Lisboa. Porque, mais do que o nome, valem pela sua qualidade. No que toca à substância do alojamento, conheço poucos apartamentos na Baixa de Lisboa reabilitados com tamanho bom gosto.
Como são as Casas da Baixa – Jules & Madeleine?
“Um magnífico exemplo de reabilitação urbana que mistura de forma sublime património histórico e modernidade, bem à medida de hóspedes citadinos e independentes.” Filipe Morato Gomes
Localização
Em plena Baixa Pombalina, a dois passos da Rua Augusta, do rio Tejo e da Praça do Império (Terreiro do Paço), e já “apontado” para incursões à Catedral de Lisboa, os apartamentos Casas da Baixa – Jules & Madeleine beneficiam de uma localização excelente na zona baixa de Lisboa. Há transportes públicos a curta distância – metro, autocarros e elétrico -, mas a localização é especialmente favorável para quem quiser explorar Lisboa a pé. O Cais do Sodré e o Bairro Alto ficam também muito perto.
Morada: Rua São Julião 23, 1100-524 Lisboa
Quartos
No edifício há diversas tipologias de apartamentos, que vão desde o apartamento Conforto, para um casal e uma criança, até a uma penthouse para seis pessoas, passando por estúdios com dois quartos ou um quarto e sofá-cama na sala comum, que acomodam até quatro pessoas.
Os apartamentos primam pelo bom gosto da decoração de interiores, com pormenores absolutamente deliciosos que valorizam a integração dos elementos originais do prédio – como os referidos azulejos e a antiga estrutura antissísmica à mostra nas paredes – no design contemporâneo que é também a marca dos espaços, prova do cuidado arquitetónico com que os apartamentos foram recuperados.
Atmosfera
No interior dos apartamentos, o ambiente é incrivelmente intimista e acolhedor mas, não havendo receção nem áreas sociais comuns, não há propriamente uma “atmosfera” para descrever. Ficar alojado nas Casas da Baixa – Jules & Madeleine é praticamente como habitar um apartamento na sua cidade de origem tendo ocasionais contactos com os vizinhos – que, no caso, serão maioritariamente casais estrangeiros e algumas famílias com filhos em visita a Lisboa.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Sendo alojamento em regime de self-catering, o pequeno-almoço não está incluído e não há também qualquer tipo de room service. Mas pode preparar o pequeno-almoço na cozinha do apartamento ou tomá-lo num dos cafés das proximidades. Independência é a palavra de ordem.
Conclusão
- Pontos fortes: extremo bom gosto na reabilitação do prédio; decoração dos apartamentos; limpeza imaculada; insonorização total das janelas; independência dos hóspedes
- Pontos fracos: tirando o pormenor do nome Jules & Madeleine, não identifiquei qualquer ponto negativo nas Casas da Baixa.
- Em resumo: apartamentos irrepreensíveis, absolutamente recomendáveis para uma estadia em self-catering na Baixa de Lisboa.
- Ideal para: casais e famílias com filhos; hóspedes que valorizam a independência.
- Preço: desde 93€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014